Buddho |
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Por
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Quando você vai estudar meditação com algum grupo ou professor que tem
experiência em uma forma particular de meditação, você deveria primeiro
fazer com que seu coração tenha confiança de que o seu professor tem plena
experiência nessa forma de meditação, e ter confiança de que a forma de
meditação que ele ensina é com certeza o caminho correto. Ao mesmo tempo,
demonstre respeito pelo lugar em que você irá meditar. Somente então você
deve começar a praticar.
Mestres no passado estavam habituados a exigir uma cerimônia de dedicação
como forma de inspirar confiança antes do estudo da meditação. Eles fariam a
pessoa fazer uma oferenda de cinco pares de velas de cera de abelha e cinco
pares de flores brancas - a isto de denominava os cinco khandha - ou
oito pares de velas de cera de abelha e oito pares de flores brancas - a
isto se denominava os oito khandha - ou um par de velas de cera de
abelha cada uma pesando 15 gramas e a mesma quantidade de flores brancas.
Então eles lhe ensinariam a sua forma particular de meditação. Esse antigo
costume tem seus pontos positivos. Existem também muitas outras cerimonias,
porém eu não irei descrevê-las. Eu mencionarei um pouco mais tarde uma
cerimonia simples, fácil de ser seguida.
Somente depois de ter inspirado confiança no seu coração da forma mencionada
você deve procurar o mestre experimentado naquela forma de meditação. Se ele
tiver experiência na repetição de samma araham, ele lhe irá ensinar a
repetir samma araham, samma araham, samma araham. Então ele o fará
visualizar uma jóia brilhante, clara, cinco centímetros acima do umbigo, e
dirá para focar a sua mente exatamente ali enquanto continua com sua
repetição, sem deixar que a sua mente escape da jóia. Em outras palavras, a
jóia passa a ser o ponto focal da sua mente.
Se você procura um mestre experimentado na meditação da subida e descida do
abdômen, ele o fará meditar acerca da subida e descida, e focar a sua mente
nos distintos movimentos do corpo. Por exemplo, quando você ergue o seu pé,
você pensa erguendo. Quando você coloca o seu pé, você pensa
colocando, e assim por diante; ou ele fará você focar continuamente nos
fenômenos de surgimento e desaparecimento em cada movimento ou posição do
corpo.
Se você procura um mestre experimentado em poderes psíquicos, ele o fará
repetir na ma ba dha, na ma ba dha, e focar a mente em um único
objeto até que isso o leve a ver o paraíso e o inferno, divindades e brahmas
de todos os tipos, até o ponto em que você se deixe levar pelas suas visões.
Se você procura um mestre experimentado na meditação com a respiração, ele o
fará focar na inspiração e expiração, e manter a sua mente firmemente
ocupada com a inspiração e a expiração e nada mais.
Se você procura um mestre experimentado na meditação com buddho, ele
o fará repetir buddho, buddho, buddho, e fará com que você mantenha a
sua mente firmemente nessa palavra até que você seja plenamente hábil nela.
Então ele o fará contemplar buddho e o que é que está dizendo
buddho. Uma vez que você veja que são duas coisas distintas, foque
naquilo que está dizendo buddho. Quanto à palavra buddho, ela
irá desaparecer, deixando somente aquilo que está dizendo buddho.
Você então foca naquilo que estava dizendo buddho como o seu objeto.
As pessoas do nosso tempo - de qualquer tempo, na verdade -
independentemente de quão instruídas ou capazes elas sejam (eu não quero
criticar nenhum de nós por tender a acreditar em coisas cuja veracidade não
testamos, porque afinal todos queremos saber e ver a verdade) e
especialmente aqueles de nós que somos Budistas: o Budismo ensina causas e
efeitos que são inteiramente verdade, mas porque é que nos deixamos levar
por afirmações e anúncios que ouvimos em todos lugares? Deve ser porque as
pessoas do nosso tempo são impacientes e querem ver os resultados antes de
terem completado as causas, em linha com o fato de que supostamente estamos
na era atômica.
O Budismo nos ensina a penetrar no coração e mente, que são fenômenos
mentais. Quanto ao corpo, é um fenômeno material. Fenômenos materiais têm
que estar sob o controle dos fenômenos mentais. Quando começamos a praticar
meditação e treinar a mente para ficar quieta e tranqüila, não vejo que
estamos criando nesse momento problema para qualquer pessoa. Se seguimos
praticando até sermos hábeis, então estaremos calmos e pacificos. Se mais e
mais pessoas praticarem dessa forma, haverá paz e felicidade no mundo.
Quanto ao corpo, nós podemos treiná-lo a estar em paz contanto que a mente
esteja totalmente sob controle. No momento em que a atenção plena é
interrompida, o corpo retorna aos seus antigos hábitos. Dessa forma vamos
treinar a mente repetindo buddho.
Etapas preliminares para a prática da meditação
Antes de praticar meditação com a palavra buddho, você deve começar
com as etapas preliminares. Em outras palavras, inspirar confiança na sua
mente, como já mencionado, e então curvar-se três vezes dizendo:
Araham
samma-sambuddho bhagava Buddham
bhagavantam abhivademi (Curve-se uma vez)
Svakkhato
bhagavata dhammo Dhammam
namassami (Curve-se uma vez)
Supatipanno
bhagavato savaka-sangho Sangham namami (Curve-se uma vez)
Namo tassa
bhagavato arahato samma-sambuddhassa.
(Três vezes)
(Pense nas virtudes
do Buda, o principal mestre do mundo, liberto do sofrimento e contaminações
de todos os tipos, sempre sereno e seguro. Depois curve-se três vezes)
Nota: Essas etapas preliminares são simplesmente um
exemplo. Não há nada de errado em recitar mais do que isso se você tiver
mais que recitar, porém você deve se curvar ante o Buda como primeiro passo
cada vez que você meditar, a não ser que o local que você esteja meditando
não permita.
* * *
Agora, sente-se em meditação, a sua perna direita sobre a esquerda, suas
mãos com as palmas para cima sobre o seu colo, sua mão direita sobre a
esquerda. Sente-se ereto. Repita a palavra buddho na sua mente,
focando a sua atenção no meio do seu peito, no coração. Não permita que a
sua atenção se desgarre para a frente ou para trás. Tenha plena atenção para
manter a sua mente no lugar, firme em um só ponto, e você entrará em um
estado de concentração.
Quando você entra em concentração, pode ser que a mente fique tão vazia que
você nem se dará conta de quanto tempo está sentado. Quando você sair da
concentração, pode ser que muitas horas tenham passado. Por essa razão, você
deve fixar um limite de tempo quando senta para meditar. Deixe que as coisas
sigam seu próprio curso.
A mente em verdadeira concentração é a mente focada em um só ponto. Se a
mente não alcançou esse estado de um só ponto, ainda não está concentrada,
porque o verdadeiro coração é um só. Se existem muitos estados mentais
acontecendo, você não penetrou no coração. Você só atingiu a mente.
Antes de praticar a meditação, você deveria primeiro aprender a diferença
entre o coração e a mente, pois eles não são a mesma coisa. A mente é o que
pensa, forma percepções e idéias acerca de todo tipo de coisas. O coração é
o que simplesmente permanece tranqüilo e que sabe que está tranqüilo, sem
formar quaisquer novos pensamentos. A sua diferença é como entre um rio e as
ondas em um rio.
Todo conhecimento e todas as contaminações podem surgir porque a mente pensa
e forma idéias e se perde em busca delas. Você será capaz de ver as coisas
claramente com o seu coração uma vez que a sua mente se tranqüilize e atinja
o coração.
A água é algo limpo e claro por sua própria natureza. Se alguém colocar um
corante na água, ela mudará de acordo com o corante. Mas uma vez que a água
é filtrada e destilada, ela se tornará limpa e clara como antes. Essa é uma
analogia para o coração e a mente.
Na realidade, o Buda ensinou que a mente é idêntica ao coração. Se não há
coração, não há mente. A mente é uma condição. O coração não tem condições.
Praticando meditação, não importa qual mestre ou método: se for correto,
terá que penetrar no coração.
Quando você atinge o coração, você verá todas as suas contaminações, porque
a mente acumula todas as contaminações dentro de si. Agora como você lida
com elas é sua decisão.
Quando os médicos curam uma doença, eles primeiro têm que encontrar a causa
da doença. Somente então eles podem tratá-la com o medicamento correto.
Meditando cada vez por mais tempo, repetindo buddho, buddho, buddho,
a mente irá gradualmente soltar as suas distrações e inquietações e, se
recolher para ficar com buddho. Ela ficará firme, com buddho,
sua única preocupação, até que você veja que o estado mental que diz
buddho é idêntico à própria mente todo o tempo, não importa se você
está sentado, em pé, caminhando, ou deitado. Não importa qual seja a sua
atividade, você verá a mente luminosa e clara com buddho. Uma vez que
você tenha atingido este estágio, mantenha a mente dessa forma o máximo que
puder. Não tenha pressa para ver isso ou ser aquilo – porque o desejo é o
principal obstáculo para a mente concentrada. Uma vez que o desejo
surge, a sua concentração irá se deteriorar imediatamente, porque a base da
sua concentração -- buddho – não é sólida. Quando isso ocorre, você
não consegue se agarrar a nenhum tipo de apoio, e ficará realmente
aborrecido. Tudo que você conseguirá pensar é o estado de concentração em
que você estava calmo e feliz e isso faz com que a mente fique ainda mais
agitada.
Pratique meditação da mesma forma como lavradores cultivam arroz. Eles não
têm pressa. Eles espalham as sementes, aram, gradam, plantam as mudas, passo
a passo, sem omitir nenhum dos passos. Então eles esperam que as plantas
cresçam. Mesmo quando eles não vêm o arroz surgindo, eles têm confiança de
que o arroz com certeza irá aparecer em algum dia no futuro. Uma vez que o
arroz aparece, eles estão convencidos de que com certeza colherão bons
resultados. Eles não puxam as plantas de arroz para que o arroz saia quando
eles querem. Quem quer que faça isso terminará por não obter qualquer
resultado.
O mesmo acontece com a meditação. Você não pode ter pressa. Você não pode
omitir nenhum dos passos. Você tem que firmemente convencer a si mesmo que,
“Essa é a palavra de meditação que com certeza fará a minha mente ficar
concentrada.” Não tenha qualquer tipo de dúvidas sobre se a palavra de
meditação é correta para o seu temperamento, e não pense que, “Aquela pessoa
usou essa palavra de meditação com estes ou aqueles resultados, porém quando
eu a uso, minha mente não se acalma. Isso não funciona para mim.” Na
realidade, se a mente está firmemente colocada na palavra de meditação que
você estiver repetindo, então não importa a palavra, com certeza irá
funcionar – porque você repete a palavra simplesmente para fazer com que a
mente fique estável e firme, isso é tudo. Quanto a quaisquer outros
resultados além disso, eles dependem do potencial e capacidades individuais
de cada um.
Certa vez na época do Buda havia um bhikkhu sentado em meditação próximo a
um lago e ele viu uma garça mergulhando para agarrar e comer um peixe. Ele
tomou aquilo como objeto de meditação até que ele conseguiu se tornar um
arahant. Eu nunca vi uma garça comendo um peixe mencionado como um objeto de
meditação em qualquer um dos manuais de meditação, porém ele foi capaz de
utilizá-lo para meditar até alcançar o estado de arahant – o que ilustra o
que eu acabei de dizer.
Quando a mente tem a intenção de permanecer dentro dos limites da sua
palavra de meditação buddho, com a atenção plena sob controle, com
certeza ela irá abandonar a sua rebeldia. Nós temos que treiná-la e refreá-la,
porque estamos procurando paz e satisfação para a mente. Geralmente, a mente
tende a estar preocupada em buscar distrações, como já expliquei, e na maior
parte das vezes ela se perde nesse tipo de distrações: quando começamos a
meditar buddho, buddho, buddho, assim que focamos a mente em
buddho, ela não irá permanecer ali. Sairá em disparada pensando em
qualquer tipo de trabalho que estamos prestes a iniciar ou que deixamos sem
terminar. Ela pensa acerca de fazer isto ou aquilo, até que ela fique tomada
pela excitação do trabalho, com temor de que o trabalho não saia bem ou não
será bem sucedido. O trabalho que nos foi designado por outras pessoas ou
que estamos fazendo por conta própria será uma perda de tempo ou fará com
que fiquemos embaraçados se não for feito da forma como solicitado....
Essa é uma das distrações que impedem que novos meditadores alcancem
concentração. Você tem que trazer a sua mente de volta para buddho,
buddho, buddho, e dizer para si mesmo, “Pensamentos deste tipo não são o
caminho para a paz; o verdadeiro caminho para a paz é manter a mente com
buddho e nada mais” – e então fique repetindo buddho, buddho, buddho...
Após um momento a mente irá se perder outra vez, desta vez para a sua
família – seus filhos, sua esposa ou esposo: Como está o seu relacionamento?
Eles estão saudáveis? Eles estão comendo bem? Se você estiver distante, você
se pergunta aonde eles estarão, o que estarão comendo. Aqueles que saíram de
casa pensam acerca daqueles que ficaram em casa. Aqueles que estão em casa
pensam acerca daqueles que partiram – temerosos de que eles não estejam
seguros, que outras pessoas os irão molestar, que eles não tem amigos, que
eles estão sós – pensando de 108 formas diferentes, o que quer que seja que
a mente possa imaginar, tudo, é um exagero da realidade.
Ou se você ainda é jovem e solteiro, você pensa em divertir-se com seus
amigos – os lugares que vocês costumam freqüentar juntos, os bons momentos
que desfrutaram, as coisas que costumam fazer – até o ponto em que você diz
algo ou dá risada em voz alta. Este tipo de contaminação é a pior de todas.
Quando você está meditando buddho, buddho, buddho, as suas
contaminações notam que a situação está fugindo do controle e de que você
irá escapar do seu controle, dessa forma elas procuram coisas que irão atá-lo
cada vez mais forte todo o tempo. Nunca desde o dia do seu nascimento você
praticou concentração. Você simplesmente permitiu que a mente seguisse os
humores das contaminações. Somente agora você começou a praticar, dessa
forma quando você repete buddho, buddho, buddho para fazer com que a
mente se acalme com buddho, ela irá se contorcer da mesma forma como
um peixe se contorce para retornar para a água quando está em terra. Dessa
forma você tem que trazer a mente de volta para buddho.
Buddho é algo fresco e calmo. É o caminho que faz surgir a paz e a
satisfação – o único caminho que nos libertará do sofrimento e estresse
neste mundo.
Dessa forma traga a mente de volta para buddho. Dessa vez ela começa
a se acalmar. Assim que você sentir que ela ficou em seu lugar, você começa
a ter uma noção de que quando a mente fica em seu lugar, está descansada e
tranqüila de uma forma diferente de quando não está calma, quando está
inquieta e preocupada. Você faz com que a sua mente seja cuidadosa e atenta
para manter a mente naquele estado e.... Opa. Aí vai ela outra vez. Agora
ela toma os seus assuntos financeiros como uma desculpa, dizendo que se você
não fizer isso ou procurar por aquilo, você estará perdendo uma grande
oportunidade. Então você foca a sua mente nisso ao invés da sua palavra de
meditação. Quanto a onde foi parar buddho, você não tem a menor
idéia. Quando você se dá conta de que buddho desapareceu, já é tarde
demais – essa é a razão porque se diz que a mente é inquieta, escorregadia,
e difícil de controlar, tal como uma macaco que nunca fica sentado quieto.
Algumas vezes, após estar sentado em meditação por um tempo longo, você
começa a se preocupar de que o seu sangue não está fluindo adequadamente,
que os seus nervos irão morrer por falta de sangue, que você irá ficar
dormente e terminar paralisado. Se você estiver longe de casa ou em uma
floresta, é ainda pior: você terá medo de que cobras o mordam, tigres o
devorem, ou fantasmas o assombrem, fazendo todo tipo de caretas
assustadoras. O seu medo da morte lhe irá sussurrar de todas formas
possíveis, sendo que tudo não passa de simples exemplos de você
aterrorizando a si mesmo. A verdade não é nada parecida com o que você
imagina. Nunca desde o dia do seu nascimento você viu um tigre comer uma
pessoa que seja. Você nunca viu um fantasma – você nem sabe qual seria a sua
aparência, porém você cria imagens para assustar a si mesmo.
Os obstáculos à meditação aqui mencionados são simplesmente exemplos. Na
realidade existem muitos, muitos mais. Aqueles que meditam o descobrirão por
si mesmos.
Se você mantiver buddho próximo ao seu coração, e usar a sua atenção
plena para manter a mente com buddho e nada mais, nenhum perigo virá em sua
direção. Dessa forma tenha fé firme em buddho. Eu
garanto que não haverá nenhum tipo de perigo – a não ser que você tenha
produzido um kamma ruim no passado, algo para o qual ninguém tem poderes
para dar-lhe proteção. Até o próprio Buda não poderá protegê-lo disso.
Quando as pessoas começam a meditar, a sua confiança tende a ser fraca. Não
importa qual seja o seu objeto de meditação, esses tipos de contaminações
com certeza irão interferir, porque essas contaminações formam a base do
mundo e da mente. No momento em que meditamos e focamos a mente em um só
ponto, as contaminações percebem que estamos escapando delas, dessa forma
elas se amontoam à nossa volta de tal forma que não possamos escapar do
mundo.
Quando vemos quão sérias e danosas elas são, devemos ter franqueza nas
nossas mentes e confiança forte e sólida, dizendo para nós mesmos que
permitimos ser enganados acreditando nas contaminações durante muitas vidas;
agora é o momento em que queremos acreditar nos ensinamentos do Buda e tomar
buddho como nosso refúgio. Então fazemos com que a atenção plena seja
sólida e fixamos a mente firmemente em buddho. Nós damos as nossas
vidas para buddho e não permitiremos que as nossas mentes escapem.
Quando tomamos esse tipo de compromisso, a mente irá mergulhar imediatamente
em um só ponto e entrará em concentração.
Quando você entra em concentração pela primeira vez, se parece com o
seguinte: você não tem idéia de que forma irá sentir a concentração ou o
foco em um só ponto. Você simplesmente tem a intenção de manter a atenção
plena firmemente focada em um objeto – e o poder da mente focada firmemente
em um objeto é o que traz o estado de concentração. Você não estará pensando
que a concentração será desta ou daquela forma, ou que você quer que seja
desta ou daquela forma. Ela simplesmente seguirá o seu próprio curso,
automaticamente. Ninguém pode forçá-la.
Nesse momento você sentirá como se estivesse em um outro mundo (o mundo da
mente), com um sentimento de calma e paz que não pode ser comparado a nada
mais no mundo. Quando a mente abandona a concentração, você lamentará que
esse estado tenha passado, e você se recordará dele com clareza. Tudo o que
se está dizendo da concentração vem da mente que abandonou aquele estado.
Enquanto estiver recolhida naquele estado, nós não estamos interessados no
que qualquer um diga ou faça.
Você tem que treinar a mente para entrar nesse tipo de concentração com
freqüência, de forma a se tornar hábil e perito, porém não tente se lembrar
dos seus estados de concentração anteriores, e não se permita querer que a
concentração seja a mesma que a anterior – porque não será dessa forma, e
você somente estará criando mais problemas para você mesmo. Simplesmente
contemple buddho, buddho, e mantenha a sua mente com a sua repetição
mental. O que ela faz a seguir, é problema dela.
Após a mente atingir a concentração pela primeira vez, não será o mesmo da
próxima vez, mas não se preocupe com isso. Seja o que for, não se preocupe
com isso. Somente se assegure de que você a tenha centrada. Quando os
resultados surgem de diferentes formas, o seu entendimento se ampliará e
você irá desenvolver muitas técnicas diferentes para lidar com a mente.
O que mencionei aqui é simplesmente para ser tomado como um exemplo. Quando
você seguir estas instruções, não lhes dê importância exagerada, ou elas se
transformarão em alusões ao passado, e a sua meditação não o conduzirá a
lugar nenhum. Simplesmente se lembre delas como algo a ser usado para efeito
de comparação depois que a sua meditação começou a mostrar avanços.
Não importa o método que você use- buddho, subida e descida (do
abdômen), samma araham – quando a mente está a ponto de
estabilizar-se em concentração, você não estará pensando que a mente está a
ponto de estabilizar-se, ou que está se estabilizando, ou qualquer outra
coisa. Ela se estabilizará automaticamente por si mesma. Você nem perceberá
quando soltar a sua palavra de meditação. A mente simplesmente terá calma e
paz diferenciada que não existe neste ou noutro mundo ou qualquer coisa
desse tipo. Não existe nada nem ninguém, somente o estado separado da
própria mente, que é denominado o mundo da mente. Nesse estado não existe a
palavra ‘mundo’ ou qualquer outra coisa. As realidades convencionais do
mundo não surgem ali, e assim nenhum insight de qualquer tipo irá surgir
ali. O ponto é simplesmente treinar a mente para ser centrada e então
compará-la com o estado da mente quando não está centrada, de tal forma que
você possa enxergar como eles diferem, como a mente que alcançou a
concentração e depois a abandona para contemplar os assuntos do mundo e do
Dhamma difere da mente que não alcançou a concentração.
O coração e a mente. Vamos falar um pouco mais acerca do coração e da mente
para que vocês possam entender. Afinal, estamos falando acerca de treinar a
mente em concentração. Se vocês não entenderem a relação entre o coração e a
mente, vocês não saberão onde ou como praticar a concentração.
Qualquer um que tenha nascido – humano ou animal – tem um coração e mente,
porém o coração e a mente têm tarefas distintas. A mente pensa, divaga, e
forma idéias de todos os tipos, seguindo para onde as contaminações a
conduzem. Quanto ao coração, é simplesmente o que sabe. Não forma qualquer
tipo de idéias. É neutro – no meio – em relação a tudo. A consciência que é
neutra: esse é o coração.
O coração não tem um corpo. É um fenômeno mental. É unicamente consciência.
Você pode colocá-la em qualquer lugar. Não fica dentro ou fora do corpo.
Quando chamamos o músculo do coração de coração, esse não é o coração
verdadeiro. É simplesmente um órgão para bombear sangue através do corpo de
forma a mantê-lo vivo. Se o músculo do coração não bombear sangue através do
corpo, a vida não pode continuar.
As pessoas em geral sempre estão falando acerca do coração: “Meu coração se
sente feliz... triste... pesado... leve... deprimido...” Tudo é um assunto
do coração. Especialistas no Abhidhamma no entanto, falam em termos de
mente: a mente em um estado saudável, a mente em um estado não saudável, a
mente em um estado neutro, a mente no nível da forma, a mente no nível sem
forma, a mente no nível transcendente, e assim por diante, porém nenhum
deles sabe como são a mente e o coração verdadeiros.
A mente é o que pensa e forma idéias. Ela necessita utilizar os seis
sentidos como ferramentas. Assim que o olho vê um objeto visual, o ouvido
ouve um som, o nariz cheira um aroma, a língua saboreia um sabor, o corpo
entra em contato com uma sensação táctil – fria, quente, dura ou macia – ou
o intelecto pensa uma idéia de acordo com as suas contaminações, boa ou má:
se qualquer uma dessas coisas é boa, a mente está satisfeita, se são ruins,
está insatisfeita. Tudo isso é um assunto da mente, ou das contaminações. À
parte desses seis sentidos, não há nada que a mente possa fazer uso. Nos
textos eles são analisados como as seis faculdades, os seis elementos, as
seis formas de contato, e uma série de outras coisas, porém todas essas
coisas estão dentro dos seis sentidos. Assim são as características da
mente: aquilo que nunca fica tranqüilo.
Quando você treina a mente – ou, em outras palavras, pratica concentração –
você tem que obter controle sobre a mente que está se contorcendo em busca
dos seis sentidos, tal como já foi explicado, e fazer com que ela fique
tranqüila através de uma coisa: a sua palavra de meditação, buddho.
Não permita que ela se desgarre para frente ou para trás. Faça com que ela
fique quieta. E saiba que ela está quieta: esse é o coração. O coração não
tem nada que ver com qualquer um dos seis sentidos, por isso é que é chamado
de coração.
Quando as pessoas em geral falam sobre o coração de alguma coisa, elas estão
se referindo ao seu centro. Mesmo quando elas falam acerca dos seus próprios
corações, elas apontam para o centro do peito. Na verdade, o coração não
fica em nenhum lugar em particular – como eu já expliquei – embora ele
esteja exatamente no centro de tudo.
Se você quer entender o que é o coração, você pode fazer um experimento.
Inspire profundamente e segure a respiração por um momento. Nesse momento
não haverá absolutamente nada exceto por uma coisa: consciência neutra. Esse
é o coração, ou ‘aquilo que sabe.’ Porém se você tentar segurar o coração
dessa maneira, você não poderá sustentá-lo por muito tempo – somente
enquanto você conseguir segurar a respiração – mas você pode tentar só para
ver como é o verdadeiro coração.
(Segurar a respiração pode ajudar a reduzir a dor física. As pessoas que
sofrem de fortes dores podem segurar a respiração como um meio – bastante
eficaz – de aliviar a dor.)
Uma vez que você se dá conta de que o coração e a mente têm essas
características e tarefas distintas, você verá que é mais fácil treinar a
mente. Na verdade, o coração e a mente são a mesma coisa. Como disse o Buda,
a mente é idêntica ao coração. Quando praticamos concentração, já basta
treinar somente a mente, uma vez que a mente esteja treinada, então veremos
o coração.
Uma vez que a mente tenha sido completamente treinada utilizando a atenção
plena para mantê-la com buddho como a sua única preocupação, ela não
ficará perdida em busca de coisas diferentes, e, ao invés disso ficará
recolhida na unidade. A palavra de meditação desaparecerá sem que você se dê
conta disso, e você sentirá uma sensação de paz e tranqüilidade que não pode
ser igualada a nada mais. Aqueles que nunca experimentaram essa
tranqüilidade antes, quando a experimentam pela primeira vez, não serão
capazes de descrevê-la, porque ninguém mais no mundo experimentou esse tipo
de paz e tranqüilidade. Mesmo que outras pessoas a tenham
experimentado, não é o mesmo. Por essa razão, será difícil para você
descrevê-la – embora você possa descrevê-la para você mesmo. Se você tentar
descrevê-la para outros, você terá que usar metáforas e analogias para que
eles o entendam. Coisas deste tipo são pessoais: somente você por você
mesmo, pode conhecê-las.
Além disso, se você desenvolveu bastante potencial em vidas passadas, todo
tipo de coisas maravilhosas podem acontecer. Por exemplo, você pode obter
conhecimento acerca de seres divinos ou fantasmas famintos. Você pode
aprender acerca do seu próprio passado e futuro, e o de outras pessoas:
naquela vida em particular você era daquele jeito; no futuro você será dessa
forma. Mesmo que você não tivesse a intenção de saber essas coisas, quando a
mente alcança a concentração ela pode saber por si própria de uma forma
maravilhosa.
Esse tipo de coisa é algo que realmente fascina os meditadores
principiantes. Quando acontece com eles, eles gostam de alardear para outras
pessoas. Quando essas pessoas tentam meditar, e não obtêm o conhecimento ou
habilidades, elas ficam desanimadas, pensando que não possuem o mérito ou
potencial para meditar, e elas começam a perder confiança na prática.
Quanto àquelas pessoas que vêm esse tipo de coisas, quando esse conhecimento
ou habilidade se deteriora – porque elas se deixaram fascinar por coisas
externas e não tomaram o coração como a sua base – elas não serão capazes de
agarrar absolutamente nada. Quando elas pensam acerca do conhecimento que
tinham, as suas mentes ficam ainda mais agitadas. As pessoas que gostam de
alardear tomarão as coisas antigas que elas costumavam ver e falarão a seu
respeito de uma maneira apaixonada. Ouvintes ávidos realmente adoram ouvir
esse tipo de coisas, mas meditadores ávidos não ficarão impressionados –
porque verdadeiros meditadores gostam de ouvir acerca de coisas que estão no
presente e que são verdadeiras.
O Buda ensinou que se os seus ensinamentos irão florescer ou degenerar
depende daqueles que o praticam. Os ensinamentos se deterioram quando
meditadores obtêm somente um pouco de conhecimento e passam a alardear para
outras pessoas, falando sobre coisas externas que não têm qualquer
substância, ao invés de explicar os princípios básicos de meditação. Quando
eles agem dessa maneira, eles fazem com que a religião se degenere sem mesmo
dar-se conta disso.
Aqueles que fazem com que a religião floresça são aqueles que falam sobre
coisas que são úteis e verdadeiras. Eles não falam somente pelo prazer de
falar. Eles falam em termos de causa e efeito: “Quando você medita dessa
forma, repetindo a palavra de meditação dessa forma, fará com que a mente se
recolha na unidade e desligue as suas contaminações e agitações..."
Quando você meditar com buddho, seja paciente. Não tenha pressa.
Tenha confiança na sua palavra de meditação e utilize a atenção plena para
manter a mente com buddho. A sua confiança é o que fará a sua mente
ficar firme e decidida, capaz de soltar todas as suas dúvidas e incertezas.
A mente irá se recolher na sua palavra de meditação, e a atenção plena a irá
se manter somente com buddho todo o tempo. Quer você esteja sentado,
em pé, caminhando, deitado, ou qualquer trabalho que você faça, a atenção
plena estará alerta para nada mais, exceto buddho. Se a sua atenção
plena ainda é débil, e as suas técnicas ainda são poucas, você tem que se
agarrar a buddho como a sua base. Senão a sua meditação não irá
progredir; ou mesmo se progredir, você não terá nenhuma base.
Para que a concentração seja firme, a mente tem que estar decidida.
Quando a atenção plena é forte e a mente decidida, você decide que é isto
que você quer: “Se eu não puder me ater a buddho, ou ver buddho
no meu coração, ou fazer com que a mente permaneça exclusivamente com
buddho, eu não me levantarei da minha meditação. Mesmo se a minha vida
tiver um fim, eu não me importo.” Quando você faz isso, a mente irá se
recolher na unidade com mais rapidez do que você pode imaginar. A palavra de
meditação buddho, ou o que quer que seja que esteja aborrecendo ou
complicando, irá desaparecer em um piscar de olhos. Mesmo o seu corpo, ao
qual você está apegado a tanto tempo, não irá ser notado por você. Tudo o
que resta é o coração – simplesmente atento – fresco, calmo, e tranqüilo.
As pessoas que praticam meditação realmente apreciam quando isto ocorre. Na
próxima vez, elas querem que aconteça de novo, e não acontece de novo dessa
forma. Isso é porque o desejo impede que ocorra de novo. A concentração é
algo muito sutil e sensível. Você não pode forçá-la para ser desta ou
daquela forma – e ao mesmo tempo você também não pode forçar a mente a que
não entre em concentração.
Se você for impaciente, as coisas ficam ainda mais complicadas. Você tem que
ter bastante paciência. Se a mente vai ou não ficar concentrada, você já
meditou com buddho no passado, dessa forma você fica meditando com buddho.
Aja como se você nunca tivesse meditado com buddho antes. Faça a mente
neutra e até, permita que a respiração flua gentilmente, e use a atenção
plena para focar a mente em buddho e nada mais. Quando chegar o
momento para a mente entrar em concentração, ela o fará por si mesma. Você
não pode organizar como irá ocorrer. Se fosse algo que você pudesse
organizar, todas as pessoas no mundo já teriam se tornado arahants a muito
tempo.
Sabendo como meditar, porém não agindo da forma correta; tendo feito isto da
maneira correta uma vez, e desejando que aconteça o mesmo outra vez, e
novamente não acontece: todas essas coisas são obstáculos na prática da
concentração.
Meditando com buddho,você tem que chegar ao ponto em que você é rápido e
habilidoso. Quando você é afetado por um bom ou mau
humor, você tem que ser capaz de entrar em concentração imediatamente. Não
permita que a mente seja afetada por esse humor. Sempre que você pensar com
buddho, a mente se recolhe imediatamente: quando você puder fazer
isso, sua mente estará solida e capaz de contar consigo mesma.
Quando você tiver praticado o suficiente para se tornar perito e experiente
nisso, você notará que após algum tempo as suas contaminações e apegos a
todas as coisas irão gradualmente desaparecer por si mesmas. Você não terá
que eliminar esta ou aquela contaminação, dizendo a si mesmo que esta ou
aquela contaminação tem que ser removida com este ou aquele ensinamento ou
este ou aquele método. Esteja satisfeito com qualquer método que funcione
para você. Isso já é mais do que o suficiente.
Fazer com que as contaminações desapareçam gradualmente através deste método
que acabei de explicar é melhor do que tentar organizar as coisas, entrando
nos quatro níveis de absorção, pensamento sustentado, êxtase e prazer,
restando somente um ponto e equanimidade; ou tentando organizar o primeiro
estágio do caminho para nibbana através do abandono da idéia de um eu,
dúvida, e apego a preceitos e rituais; ou olhando para cada uma das
contaminações, e dizendo a si mesmo, “Com aquela contaminação, eu fui capaz
de contemplar de tal e tal forma, dessa forma eu superei aquela
contaminação. Eu tenho tais contaminações que ainda restam. Se eu puder
contemplar de tal e tal forma, minhas contaminações serão extintas” -
porém você não se dá conta de que o estado mental que quer ver e conhecer e
alcançar tais coisas é uma contaminação fixada firmemente na mente. Quando
você termina a sua contemplação, a mente está de volta ao seu estado
original e não ganhou absolutamente nada. Além disso, se alguém vem e
diz algo que é contrário à forma como você vê as coisas, você começa a
discordar violentamente, como uma fogueira sobre a qual se derrame
querosene.
Dessa forma segure com firmeza a sua palavra de meditação, buddho.
Mesmo se você não alcançar nada mais, pelo menos você tem a sua palavra de
meditação como sua base. As várias preocupações da mente irão diminuir ou
mesmo desaparecer, o que é melhor do que não ter nenhuma base sobre a qual
se apoiar.
Na verdade, todos meditadores têm que manter com firmeza as suas palavras de
meditação. Somente então poderão dizer que estão meditando com uma base.
Quando a sua meditação deteriora, eles serão capazes de usá-la como algo
em que se apoiar.
O Buda ensinou que as pessoas que fazem um esforço para abandonar as
contaminações devem agir como os guerreiros de antigamente. No passado, eles
precisavam construir uma fortaleza com muros sólidos, fossos, portões, e
torres para proteger-se de ataques do inimigo. Quando um guerreiro
inteligente ia para a batalha e percebia que ele não poderia enfrentar o
inimigo, ele recuaria para a sua fortaleza e a defenderia de forma que o
inimigo não pudesse destrui-la. Ao mesmo tempo, ele reuniria tropas, armas e
comida suficientes (isto é, faria a sua concentração correta e firme) e
então sairia para retomar a luta com o inimigo ( isto é, todas as formas de
contaminações).
A concentração é uma força importante. Se você não tem concentração, onde
irá a sua sabedoria ganhar força? A sabedoria da meditação de insight não é
algo que pode ser fabricado através de um arranjo. Ao invés disso, ela surge
da concentração que foi dominada até que seja boa e sólida.
Mesmo aqueles que dizem terem obtido o Despertar com o ‘insight seco’: se
eles não tiverem silêncio mental, de onde irão obter qualquer insight?
Simplesmente, o seu silêncio não está totalmente dominado. Somente quando se
põe a questão dessa forma é que faz algum sentido.
Quando a sua concentração é sólida e firme ao ponto em que você pode entrar
e sair quando queira, você será capaz de ficar com ela por muito tempo e
contemplar o corpo em relação à sua repulsa ou em relação aos seus elementos
físicos. Ou, se você quiser, você pode contemplar todas as pessoas do mundo
até que você as veja todas como esqueletos. Ou você pode contemplar todo o
mundo como um espaço vazio...
Uma vez que a mente esteja totalmente centrada, então não importa se você
está sentado, caminhando, ou deitado, a mente estará centrada todo o tempo.
Você verá com clareza como as suas próprias contaminações – cobiça, raiva, e
delusão, que surgem da mente – surgem por esta e aquela causa, como
elas permanecem desta ou daquela forma, e você será capaz de
encontrar meios para abandoná-los com esta ou aquela técnica.
É como a água em um lago que esteve lamacento por centenas e centenas de
anos e repentinamente se torna claro de forma que você consegue ver todas as
coisas que estão no fundo do lago – coisas que você nem sonhava estivessem
ali. A isto se denomina insight – vendo as coisas como elas realmente são.
Qualquer tipo de verdade que elas contenham, essa é a verdade que você vê,
sem se desviar dessa verdade.
Forçando a mente a ficar em silêncio pode fazer com que ela abandone as
contaminações, porém ela abandona da mesma forma como uma pessoa corta
grama, cortando somente a parte acima do chão, sem escavar as raízes. As
raízes com certeza irão enviar novas mudas quando a chuva cair novamente. Em
outras palavras, você vê o perigo das preocupações que surgem dos seis
sentidos, mas assim que você as vê, você se retira para o silêncio sem
contemplar essas preocupações cuidadosamente como você faz quando a mente
está concentrada. Em resumo, você simplesmente quer silêncio, sem querer
perder tempo em contemplação – como um lagarto que conta com o seu buraco
para sua segurança. Assim que ele vê um inimigo chegando, ele corre para o
seu buraco, escapando do perigo somente durante algum tempo.
Se você quer desenraizar as suas contaminações, então quando você vê a
contaminação brotar dos seis sentidos – por exemplo, o olho vê um objeto
visual ou o ouvido ouve um som, o contato é feito e faz com que você fique
satisfeito ou insatisfeito, alegre ou triste, e então você o agarra como a
sua preocupação, fazendo com que a mente fique turva, perturbada, e
preocupada, às vezes até o ponto em que você não consegue comer ou dormir, e
pode até se suicidar – quando você vê isso claramente, faz a sua
concentração firme e então foca a sua mente exclusivamente no exame daquela
preocupação em particular. Por exemplo, se o olho vê um objeto visual
atraente que faz com que você fique satisfeito, foque o exame somente nessa
sensação de prazer, para descobrir se ela surge do olho ou do objeto visual.
Se você examinar o objeto visual, verá que é somente um fenômeno material.
Quer seja bom ou ruim, ele não tenta persuadi-lo a ficar satisfeito ou
insatisfeito, ou fazer com que você o ame ou o odeie. É simplesmente um
objeto visual que aparece e desaparece de acordo com a sua própria natureza.
Quando você se volta para examinar o olho que vê o objeto visual, você
descobre que o olho fica buscando objetos e, assim que encontra um, a luz é
refletida nos nervos óticos para que todo tipo de formas visíveis apareçam.
O olho não tenta persuadi-lo a ficar satisfeito ou insatisfeito, a amar ou
odiar qualquer coisa. A sua tarefa é simplesmente ver. Uma vez que viu uma
forma visível, a forma desaparece.
Quanto aos outros sentidos e seus objetos, atraentes ou não atraentes, elas
devem ser examinadas exatamente da mesma forma.
Quando você contempla dessa forma, você verá claramente que todas as coisas
no mundo que se tornam objeto de contaminações e assim o fazem por causa dos
seis sentidos. Se você contemplar os seis sentidos de tal forma que você não
os siga, as contaminações não surgirão dentro de você. Ao contrário:
Insight e sabedoria irão surgir no seu lugar, tudo por causa desses mesmos
seis sentidos. Os seis sentidos são os meios da bondade e do mal. Iremos
para um bom ou mal destino na próxima vida por causa da forma como nós os
utilizamos.
O mundo parece amplo porque a mente não está centrada e é deixada livre para
vagar entre os objetos dos seis sentidos. O mundo irá se estreitar quando a
mente for treinada na concentração de tal forma que estará sob seu controle
e poderá contemplar os seis sentidos exclusivamente dentro de si. Em outras
palavras, quando a mente está totalmente concentrada, os sentidos externos –
o olho vendo as formas, o ouvido ouvindo sons, e assim por diante – não
aparecerão. Tudo que irá aparecer são formas e sons que são fenômenos
mentais presentes exclusivamente naquela concentração. Você não dará
absolutamente nenhuma atenção aos sentidos externos.
Quando a sua concentração é totalmente sólida e forte, você será capaz de
contemplar esse mundo da mente, que dá origem ao contato sensorial,
percepções, preocupações, e todas as contaminações. A mente irá abandonar
tudo deixando somente o coração, ou simplesmente atenção.
O coração e a mente possuem características distintas. A mente é o que
pensa, forma percepções e preocupações ao ponto de juntar-se a elas,
tomando-as para si mesmo. Quando ela vê o sofrimento, dano, e estresse que
surgem do agarrar-se a todas as contaminações, ela irá abandonar todas as
preocupações e contaminações. A mente será então o coração. Assim é como o
coração e a mente diferem.
O coração é neutro e silencioso. Ele não pensa em absolutamente nada. Ele
está simplesmente atento ao seu silêncio. O coração é um fenômeno
genuinamente neutro ou central. Neutro sem passado, sem futuro, sem bem, sem
mal. Esse é o coração. Quando falamos do coração de alguma coisa, nós
queremos dizer o seu centro. Mesmo o coração humano, que é um fenômeno
mental, dizemos que ele fica no centro do peito. Porém onde fica o coração
verdadeiro, nós não sabemos. Tente focar sua atenção em qualquer parte do
corpo e você sentirá a consciência naquele ponto. Ou você pode focar sua
atenção fora do corpo – em um poste ou a parede de uma casa por exemplo – e
esse será o ponto da sua consciência.
Então podemos concluir que o verdadeiro coração é a atenção silenciosa e
neutra. Em todo lugar em que exista uma atenção neutra, aí é onde está o
coração.
Quando as pessoas em geral falam acerca do coração, esse não é o coração
verdadeiro. É simplesmente um conjunto de músculos e válvulas para o
bombeamento de sangue através do corpo para mantê-lo vivo. Se essa bomba não
mandar sangue por todo o corpo, o corpo não poderá viver. Ele irá morrer. O
mesmo se aplica ao cérebro. A mente pensa no bem e no mal usando o cérebro
como ferramenta. O sistema nervoso do cérebro é um fenômeno material. Quando
os seus vários fatores causais são eliminados, esse fenômeno material não
pode durar. Ele irá parar.
Mas quanto à mente, que é um fenômeno mental, o Budismo ensina que ela
continua a existir e que pode renascer. Esse fenômeno mental irá parar
somente quando o insight discernir os seus fatores causais e desenraizar as
causas que lhe dão suporte.
Nenhum dos vários assuntos e ciências do mundo tem um ponto final. Quanto
mais você os estuda, mais eles se espalham. Somente o Budismo pode lhe
ensinar a chegar ao fim. No primeiro estágio, ele lhe ensina a
familiarizar-se com o corpo, para ver como ele é feito de várias coisas (as
32 partes) colocadas junto, e quais são as suas funções. Ao mesmo tempo, o
Budismo lhe ensina que o corpo é inerentemente repulsivo. Ele lhe ensina a
familiarizar-se com este mundo (o mundo de um ser humano), que é composto de
sofrimento e estresse, e que por fim terá que se desintegrar por sua própria
natureza.
Agora então nós recebemos este corpo – mesmo que ele esteja repleto de
coisas nojentas e sem atrativos, e mesmo que ele seja feito de todo tipo de
sofrimento e estresse – nós ainda somos capazes de depender dele por algum
tempo, dessa forma deveríamos usá-lo para fazer o bem e pagar nossas dívidas
com o mundo antes que o deixemos na morte.
O Buda ensina que apesar de que a natureza de uma pessoa (deste mundo) é de
se descompor e morrer, a mente – o fiscal deste mundo – precisa retornar e
renascer enquanto ainda tiver contaminações. Assim ele nos ensina a praticar
a concentração, que é um assunto exclusivo da mente. Uma vez que tenhamos
praticado concentração, sentiremos cada contato sensorial internamente,
somente na mente. Não estaremos preocupados com o nosso ver ou ouvir no olho
ou ouvido. Ao invés disso, estaremos atentos ao contato sensorial exatamente
na mente. Isto é o que significa limitar o mundo.
Os sentidos são o melhor meio para tomar a medida da sua própria mente.
Quando o contato sensorial golpeia a mente, ele tem algum impacto sobre
você? Se tem um grande impacto, isso mostra que a sua atenção plena é fraca
e a sua base ainda é instável. Se tem pouco impacto, ou nenhum impacto, isso
mostra que a sua atenção plena é forte e que você é totalmente capaz de
tomar conta de si mesmo.
Essas coisas são como Devadatta, que criou problemas para
o Bodisatva todo tempo. Se não fosse por Devadatta, o Bodisatva não seria
capaz de conduzir o seu caráter à plena perfeição. Uma vez que o seu caráter
havia sido plenamente aperfeiçoado, ele foi capaz de obter o Despertar e
tornar-se o Buda. Antes de obter o Despertar, ele teve que resistir aos
fortes exércitos da tentação; e logo após o seu Despertar, as três filhas da
tentação vieram para testá-lo mais uma vez. Como resultado, desde então as
pessoas do mundo o têm elogiado por ter conquistado as contaminações neste
mundo de uma vez por todas.
Enquanto os sentidos internos ainda existirem, o contato ainda será uma
preocupação. Dessa forma aqueles que sabem, tendo visto o
perigo dessas coisas, estão dispostos a abandoná-los, deixando apenas o
coração que é neutro...neutro...neutro, sem pensamento, sem imaginação, sem
criação de absolutamente nada. Quando esse é o caso, onde se formará este
mundo? Assim é como o Buda nos ensina a alcançar o fim do mundo.
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Source : http://www.acessoaoinsight.net |
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