Os Símiles da Balsa e do |
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Por Bhante Henepola Gunaratana Somente para distribuição gratuita. Este trabalho pode ser impresso para distribuição gratuita. Este trabalho pode ser re-formatado e distribuído para uso em computadores e redes de computadores contanto que nenhum custo seja cobrado pela distribuição ou uso. De outra forma todos os direitos estão reservados. |
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Qual a utilidade de uma balsa? Usá-la para cruzar uma
grande extensão d´água, o que seria difícil sem ela. O exame detalhado da
aplicação deste símile empregado pelo Buda, no
Alagaddupama Sutta,
no Majjhima Nikaya, elucida a habilidade que ele teve em escolhê-lo para
ilustrar de forma precisa o que as pessoas, que não compreendem
completamente o significado das religiões, têm feito ao longo da história.
Nesse símile o Buda indica que se um homem, depois de cruzar uma grande
extensão d´água sobre uma balsa, estivesse determinado a carregá-la sobre os
ombros, pensando que ao assim fazer estaria demonstrando para a balsa a sua
gratidão por tê-lo ajudado a salvar a sua vida, ele estaria agindo como um
tolo.
O símile do caçador de serpentes empregado pelo Buda no
mesmo Sutta, mencionado anteriormente, também é indispensável para ilustrar
o perigo de se compreender uma religião da forma incorreta. Se uma pessoa
que não sabe como pegar uma cobra venenosa tentasse segurar a cobra pelo
corpo ou pela cauda a pessoa poderia ser picada e como conseqüência teria um
grave ferimento ou poderia até morrer. A mensagem desses dois símiles, uma
vez compreendida plenamente, facilitaria a melhor compreensão da tensão
derivada do aumento da violência e criminalidade em nome da religião na
sociedade moderna.
A compreensão incorreta da religião pode conduzir o homem
a justificar a sua cobiça, raiva e tolice. As suas idéias distorcidas,
percepções distorcidas e consciência distorcida fazem com que ele entenda a
religião de forma incorreta minando a própria infra-estrutura dela, causando
mais dor e sofrimento – exatamente como quando ele agarra a cobra de forma
incorreta.
A compreensão incorreta de uma religião pode também ser o
caminho direto para anular o propósito da religião e encorajar as pessoas a
cometerem atrocidades em nome da própria fé. Algumas vezes as pessoas não só
se apegam à religião mas, de forma ingênua obedecem a qualquer um, homem ou
mulher que, por ser um orador persuasivo, é capaz de promover e justificar a
violência e práticas não éticas em nome da religião. Ao dar apoio para tais
pessoas através de dedicação de tempo, habilidade, ou recursos, elas apenas
contribuirão para aumentar sua cobiça, raiva e ignorância. Cegas devido às
crenças religiosas, elas podem até mesmo tentar com zelo exagerado proteger
as suas religiões, não apenas inculcando o raiva e o medo em muitos dos
fiéis crédulos, mas também defendendo até mesmo o assassinato em nome das
suas crenças.
Se uma pessoa simplesmente se agarrar à balsa depois de
usá-la para cruzar a grande extensão d´água, ao invés de deixá-la na margem
para que outra pessoa a use, ela tampouco estará agindo de forma sábia. Ao
invés disso ela faz com que a balsa se torne um pesado fardo sobre os seus
ombros. A balsa foi feita com capim, gravetos, galhos e folhas que foram
amarrados com uma corda ou com a casca de uma árvore. Da mesma forma este
corpo é composto de forma, sensação, percepção, formação mental e
consciência que estão atados juntos pela ignorância e desejo, compondo o
complexo mentalidade-materialidade. Assim como aquela pessoa se agarra à
balsa composta de capim, gravetos, galhos e folhas nós nos agarramos ao
corpo e mente composto de forma, sensação, percepção, formação mental e
consciência atadas pela ignorância e desejo. A pessoa agarrada à balsa que a
ajudou a cruzar a grande extensão d´água continuará a carregar o fardo
daquela mesma balsa. Do mesmo modo, ao nos agarrarmos ao nosso complexo de
mentalidade-materialidade e às nossas crenças religiosas continuamos a
carregar o nosso fardo. Ela permanece atada à balsa e nós à mente-corpo. Ela
está na margem e nós estamos no Samsara. Este corpo e mente, juntamente com
as sensações, percepções e formações mentais, não existe para que nos
apeguemos a ele, mas para que obtenhamos o conhecimento e o insight
necessários para alcançar a libertação do Samsara. “Bhikkhus,” disse o Buda,
“vocês devem abandonar até mesmo os bons ensinamentos, mais ainda os
falsos.” Os bons ensinamentos nos beneficiam apenas se os usamos. Igual à
balsa. Nenhum ensinamento, não importa quão bom seja, poderá nos ajudar se
nós simplesmente nos apegarmos a ele. O apego até mesmo ao bom ensinamento
pode causar dor e sofrimento. Imagine quanto mais doloroso pode ser o apego
a coisas ruins! A pessoa que emprega a balsa para cruzar a grande extensão
d´água tem que ser sábia. A pessoa que emprega este complexo mente-corpo
para cruzar o oceano do Samsara também tem que ser sábia. Portanto, ela não
irá se apegar de nenhuma forma a este complexo mente-corpo. Se ela assim o
fizer não será capaz de alcançar a Libertação.
O apego a idéias, sem a prática, também pode com
facilidade converter as pessoas em fanáticos religiosos que irão buscar
refúgio na violência para solucionar problemas, pois elas desconhecem
completamente aquilo que a sua religião lhes ensina. As pessoas não
familiarizadas com a mensagem da sua religião vivem constantemente
atemorizadas pelas críticas dirigidas a ela, e desejando protegê-la querem
destruir as pessoas que possuam crenças diferentes. O temor da crítica surge
na mente mal direcionada pelo sistema de crença ambivalente que não é capaz
de atestar pela segurança e realidade. O Buda disse: “A sua mente mal
direcionada pode causar-lhes mais dano que todos os seus inimigos juntos no
mundo . Da mesma maneira, ele disse: “Uma mente guiada corretamente pode
trazer-lhes mais benefício do que os seus pais, amigos e parentes, todos
juntos.” O verdadeiro conquistador não é aquele que conquista milhares e
milhares de pessoas em um campo de batalha mas aquele que conquista a si
mesmo.
Embora o Buda não tenha sequer indiretamente causado dano
a qualquer pessoa que seja, existem até mesmo entre os Budistas aqueles que
acreditam que devem proteger o seu país, matando tantos quanto sejam
necessários de forma a proteger o Budismo, a religião da paz, harmonia,
compaixão e amor bondade. Matar, ou mesmo o pensamento de matar qualquer ser
vivo, sem falar de seres humanos, é diametralmente oposto ao ensinamento do
Buda compassivo, que disse: “Ele é chamado sábio e virtuoso, aquele que
desejando o sucesso, não comete crimes em benefício próprio, em benefício
dos próprios filhos, em benefício de outros para obter riqueza, ou mesmo
pelo seu país.” Os ensinamentos do Buda estão acima de todas as noções de
país, cultura, linguagem, afiliações étnicas e todo o demais, pois ele
apenas ensinou a verdade que é permanente, eterna e que não está atada a
nada no mundo.
Ao embarcar na balsa você deve inspecioná-la com cuidado
para verificar se ela é segura e construída da forma correta para que você
não se afogue pelo fato de usar uma balsa defeituosa. Da mesma forma, você
deve cuidadosamente aprender e examinar de forma crítica qualquer religião
antes de aceitá-la ou rejeitá-la. Ouvir com paciência alguém que critique o
Buda, Dhamma ou a Sangha é altamente recomendado nos ensinamentos do Buda.
“Se alguém insulta, ofende, xinga e molesta o Tathagata
por isso, o Tathagata, por conta disso, não sente nenhuma contrariedade,
amargura ou tristeza no seu coração. E se alguém honra, respeita, reverencia
e venera o Tathagata por isso, o Tathagata, por conta disso, não sente
prazer, alegria ou exaltação no seu coração. Se alguém honra, respeita,
reverencia e venera o Tathagata por isso, o Tathagata, por conta disso,
pensa da seguinte forma: ‘Eles realizam esse tipo de cerimônias por aquilo
(o agregado mente-corpo) que já foi plenamente compreendido.’
Portanto, bhikkhus, se alguém os insultar, ofender,
xingar e molestar, vocês não deverão, por conta disso, dar lugar a nenhuma
contrariedade, amargura ou tristeza no seu coração. E se alguém os honrar,
respeitar, reverenciar e venerar, vocês não deverão, por conta disso, dar
lugar a nenhum prazer, alegria ou exaltação no seu coração. Se alguém os
honrar, respeitar, reverenciar e venerar, por conta disso, vocês devem
pensar da seguinte forma: ‘Eles realizam esse tipo de cerimônias por aquilo
(o agregado mente-corpo) que já foi plenamente compreendido.’”
No Budismo, a investigação analítica e o conhecimento
crítico do Dhamma são fatores essenciais para a Libertação. Pois, se você
tem certeza que aquilo que você pratica é verdadeiro não deveria ficar
alarmado com a crítica. Ao invés disso, você deveria receber com prazer a
investigação crítica pois assim você poderá olhar para a sua prática por
ângulos distintos. Se você sabe que um pedaço de ouro é ouro, por exemplo,
você permitiria sem hesitação que qualquer ourives treinado testasse o
pedaço cortando, fundindo, esfregando e martelando, pois você está seguro
que ele não irá concluir que o seu ouro na verdade é cobre. Somente se você
lhe desse um pedaço de chumbo banhado de ouro você teria motivo para temer o
teste.
O Buda nos aconselhou a não ficarmos alarmados pela
crítica, mas a ouvir a crítica com cuidado e atenção plena sem ficarmos
perturbados por aquilo que estamos ouvindo e que na nossa avaliação nos
atenhamos ao que foi dito. Após uma investigação detalhada, com certeza não
encontraremos defeito no Buda, Dhamma ou Sangha. No entanto, descobriremos
que a crítica foi feita devido à raiva, preconceito, frustração, temor,
neurose, paranóia, etc. Então, é claro, ao invés de sentirmos raiva da
pessoa que tem todos esses problemas, deveríamos tentar ajudá-la com amor
bondade. Ela merece o nosso amor bondade e compaixão ao invés da raiva. Não
existe raiva que possa resolver ou que tenha resolvido qualquer tipo de
problema no mundo, pois neste mundo a raiva nunca é aplacada com a raiva,
mas apenas com o amor.
Nos ensinamentos do Buda não há espaço para resolver
qualquer tipo de problema através de meios violentos. Um Budista que esteja
repleto de cobiça, raiva e delusão e desatento à verdadeira mensagem do
Buda, exercendo a sua completa liberdade de escolha e responsabilidade
asseguradas no Budismo, poderá matar alguém, mas ele nunca será capaz de
citar algum texto Budista que justifique e apóie o seu ato.
Supostamente devemos usar o Dhamma do Buda sem nos
apegarmos a ele, mas apenas para cruzar a torrente deste ciclo de nascimento
e morte – Samsara. Ele nos aconselhou a empregar o ensinamento como se fosse
uma balsa que é utilizada apenas para cruzar uma extensão d´água e não para
ser agarrada. É o apego apaixonado àquilo que acreditamos, ao invés da
compreensão de como devemos usá-lo para guiar a nossa vida diária na direção
correta, que estimula a raiva enraizada profundamente que pode nos forçar a
solucionar nossos problemas através de meios violentos. É o apego apaixonado
às coisas que cria todo tipo de problemas.
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Source : http://www.acessoaoinsight.net |
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